Sistema agroflorestal reduz o impacto negativo do desmatamento na Amazônia
Autor: Diego Oliveira Brandão
As pessoas e as empresas que dependem de produtos florestais não madeireiros de árvores e palmeiras da Amazônia estão altamente ameaçadas pelo desmatamento. A área média de floresta desmatada na Amazônia tem sido de 1.385.600 hectares ao ano no período entre 1988 e 2020. Considerando 500 árvores/palmeiras maduras por hectare na Amazônia, a estimativa média é de 692 milhões de árvores/palmeiras destruídas ao ano. A redução de vegetação foi em 813.485 km2 (quase 1 bilhão de hectares) até 2020 somente na Amazônia brasileira. Onde as taxas de desmatamento são maiores, em municípios nas regiões leste e sul da floresta, a redução nas atividades econômicas com as sementes e frutos de espécies nativas tem sido maior.
Vários fatores de mudanças ambientais causadas pelo desmatamento explicam a redução das atividades econômicas com os produtores florestais não madeireiros. Por exemplo, a redução é correlacionada à perda de biomassa florestal em grande escala, redução na densidade e diversidade de sementes causada pela fragmentação florestal, mortalidade da vegetação causada pelo efeito de borda, redução da evapotranspiração e aumento de temperatura, aumento de incêndios florestais e mudanças na composição de espécies atribuídas ao desmatamento. As sementes e frutos de açaí (Euterpe precatoria), andiroba (Carapa guianensis), castanha-da-Amazônia (Bertholletia excelsa) e cumaru (Dipteryx odorata) são exemplos empíricos da redução de colheitas à medida que o desmatamento avança na Amazônia.
Os sistemas agroflorestais são recomendados para restauração florestal das áreas desmatadas e abandonadas. Os sistemas agroflorestais são métodos que associam o manejo de espécies nativas e exóticas simultaneamente em uma mesma área. Por exemplo, as plantas nativas altamente presentes em sistemas agroflorestais na Amazônia são açaí (Euterpe oleracea e E. precatoria), andiroba (C. guianensis), buriti (Mauritia flexuosa), bacuri (Platonia insignis.), cacau (Theobroma cacao), castanha-da-Amazônia (B. excelsa), cumaru (D. odorata), cupuaçu (Theobroma grandiflorum), pupunha (Bactris gasipaes) e taperebá (Spondias mombin), enquanto que as espécies exóticas comuns são coco (Cocos nucifera), café (Coffea arabica e C. canephora), dendê (Elaeis guineenses), manga (Mangifera indica), banana (Musa spp.), limão, laranja, tangerina (Citrus spp.) e pimenta-do-reino (Piper nigrus).
Os sistemas agroflorestais são mais produtivos e biodiversos em comparação às monoculturas na Amazônia, e podem ainda incluir o manejo de animais como boi, galinha, pato e porco, sem precisar derrubar imensas áreas de floresta. O investimento médio necessário para restauração florestal na Amazônia tem sido de US$ 3,290 por hectare, com taxas internas de retorno variando de 10% a 110% e prazo de retorno de 2 a 13 anos. Porém, as áreas desmatadas e abandonadas estão sendo raramente restauradas com espécies de plantas com valor econômico. Sem a presença de projetos de restauração florestal empregando sistemas agroflorestais, as atividades sociais e econômicas de pessoas e empresas que dependem da floresta estão cada vez mais reduzidas pelo desmatamento.
Referências:
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